29 de abril de 2012

Desejo ardente


Satânico é meu pensamento a teu respeito, 
e ardente é o meu desejo de apertar-te em minha mão,
numa sede de vingança incontestável pelo que me fizeste ontem.
A noite era quente e calma, e eu estava em minha cama, 
quando, sorrateiramente, te aproximaste. 
Encostaste o teu corpo sem roupa no meu corpo nu, 
sem o mínimo pudor! 
Percebendo minha aparente indiferença,
aconchegaste-te a mim e mordeste-me sem escrúpulos.
Até nos mais íntimos lugares. 
Eu adormeci.
Hoje quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, 
mas em vão.
Deixaste em meu corpo e no lençol 
provas irrefutáveis do que entre nós ocorreu durante a noite.
Esta noite recolho-me mais cedo, 
para na mesma cama, te esperar. 
Quando chegares, quero te agarrar com avidez e força. 
Quero te apertar com todas as forças de minhas mãos. 
Só descansarei quando vir sair o sangue quente do seu corpo.
Só assim, livrar-me-ei de ti, pernilongo Filho da Puta!!!
[Carlos Drummond de Andrade]

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